Thursday, May 17, 2007

Uma noite às claras

Quando saíste não fechaste a porta. E esqueceste-te do meu abraço. Do meu braço que te perdia assim para uma noite sem fim.
Tentei dizer-te mil coisas, para que não te fosses embora. Não te compreendo: como podeste partir e deixar-me insignificante.
Resolvi dar uma volta. Ver o Largo do Senado, fumar um cigarro. Perder-te na vista que não te encontrava. Procurei-te longe, onde não estavas, e continuei sem sentido.
Ruas fechadas. A noite cerrada com cada porta de loja morta. As cores fumadas de cigarros.
Onde estavam as cores do meu sonho lindo? O meu estômago colava-se a todas as paredes e nos vidros não via nenhum reflexo.
Quando terminei a Rua do Campo apeteceu-me uma cerveja fresca que comprei numa lojita esquecida para o efeito.
Pensei em ti e tentei escrever um poema que me tranquilizasse, que deixasse no tempo atrás de mim as dúvidas e as preocupações.
Só me vinha à cabeça uma lua branca cheia num céu que olhava em baixo um oceano gigante e triste onde as ondas desoladas embatiam umas nas outras como acórdeões em lágrimas.
Pensei no dia que iria chegar. A leveza que traria consigo e o novo mundo ressucitado duma noite eterna e presente. Ao mesmo tempo senti saudade daquela solidão que já aprendera a esquecer e que partilhava agora com os candeeiros e paredes mal iluminadas dum Macau cinzento e manchado.
Apanhei o táxi de volta para casa.

1 comment:

Shraddha said...

olá zé!
devias escrever mais. gosto do que escreves.
beijinhos